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O Parque Natural Municipal da Gruta, em
Americana (SP, Brasil), é uma unidade de conservação que, a julgar pelo estado
em que se encontra, coloca em questão tanto a administração pública como o uso
que faz dela a população local. É uma área de singular beleza cênica, haja
vista sua topografia formada por fendas e uma gruta num vale. É o maior parque
urbano do município, com setes quedas d’água, certamente uma área de
afloramento do Aquífero Tubarão. Contudo, mesmo diante de sua relevância
ambiental e histórica, as políticas públicas não têm se efetivado na
preservação do local.
Balan (2015): não existe gerenciamento
por parte do Poder Público e observa-se despejo de esgoto sem tratamento,
ocupações irregulares, descuido e depredação por parte dos moradores do
entorno.
OBJETIVOS
Apresentar os usos conferidos ao Parque nos últimos meses, apontando os
problemas e as ações de preservação identificados por meio de registros
fotográficos e opiniões de participantes do coletivo “Amigos da Gruta”.
MATERIAIS E MÉTODOS
Pesquisa participante com registros
fotográficos em visitas in loco entre julho de 2015 e março de
2016, participação na formação da Associação de Cultura, Artes e Educação -
ACAEDUC “Amigos da Gruta” e realização de cinco entrevista como parte do
projeto de pesquisa sobre Educação Ambiental Crítica (Ortolano e Silva Netto,
2016b).
+/- 300 registros com foco na
paisagem, aspectos geológicos, vegetação, problemas ambientais e atuação
social.
05 entrevistas semi-estruturadas
realizadas em março de 2016, as quais foram analisadas pela metodologia de
análise de discurso (Spink e Lim, 1999).
Materiais: Câmera SONY DSC-W530,
Câmera do iPhone 4, Gravador SONY IC RECORDER e Notebook Acer One.
RESULTADOS OBTIDOS
Registros
•Novos locais de despejo de esgoto sem
tratamento nas cachoeiras;
•Despejo de entulho e rompimento de
tubulação em intervenção da prefeitura;
•Residências que não respeitam o
distanciamento mínimo de nascentes conforme estabelece o Código Florestal;
•Tubulação rompida ocasionando erosão
na Avenida Estados Unidos;
•Logradouros construídos dentro da área
do Parque;
•Resistência da flora e fauna que
sobrevive no local inóspito: encontram-se preservados, por exemplo, exemplares
vegetais de Mata Atlântica e Cerrado, com diversas aves e espécies de orquídeas.
Entrevistas
•Falta de consciência ambiental e
sentimento de pertencimento da população “[há] um estado de abandono e
falta de apreço total por parte da municipalidade e dos órgãos públicos
responsáveis”. (Entrevistado 05, 42 anos, servidor público);
• O espanto, a tristeza, a surpresa e a
esperança foram alguns sentimentos apontados ante a atual situação do Parque,
os quais representam potências a serem associadas ao sentimento de
pertencimento;
•Os principais usos identificados pelos
entrevistados corroboram com os dados levantados;
•Dado novo: população do entorno leva
os animais para deixar suas fezes - “Uma cena que vi várias vezes. – Oh,
senhora, não pode colocar o cachorrinho pra fazer cocô aí. É
depositar sujeira”. (Entrevistada 03, 52 anos, professora). Chama a atenção
o cuidado que a entrevistada levanta, ao tratar da postura da população frente
a um bem público. “(...) eu acho que poderia existir um projeto de
educação para que as pessoas entendessem que a gruta é o quintal da casa delas”
(entrevistada 04, 52 anos, artesã). Certamente é preciso identificar as
motivações e repertórios pessoais, diante dos conflitos e demandas
públicas;
•Uso politiqueiro do Poder Público “É tudo
marketing. É tudo uma maquiagem para eles poderem movimentar recursos
financeiros e públicos”. (Entrevistado 05, 42 anos, servidor público)
•Uso para o lazer, caminhada, passeio,
plantio etc. “(...) Ela queria conhecer a gruta e levar umas
professoras. Elas foram, fotografaram e lançaram um jornalzinho. Eu fazia
parte”. (Entrevistado 02, 56 anos, gestor público). Muitos,
independentemente do apoio do Poder Público, cuidam do Parque, “alguns se
preocupam, capinam e plantam no local (entrevistada 01, 57 anos, pedagoga).
•Não gerenciamento do Poder Público,
mau exemplo: “O desgoverno fez da cidade uma terra sem lei”
(entrevistado 02, 56 anos, gestor público). (Ortolano e Silva Netto, 2016a).
CONCLUSÃO
Nota-se que apesar das múltiplas opiniões com relação ao Parque, muitos
revelam sentidos em potencial a serem associados ao sentimento de pertencimento
com o local. Mesmo diante de tantos problemas, a flora e a fauna têm resistido.
Algumas mudanças parecem irreversíveis e não há como considerar apenas a
resistência, mas sim as possibilidades de proteção. Uma intervenção para
proteção e salvaguarda é emergencial. O gerenciamento responsável por
parte do Poder Público deve envolver a população em ações criativas e
contínuas.
Gestão, participação e criação compreendem uma tríade oportuna para
romper a dicotômica relação entre meio ambiente e ser humano na
sustentabilidade de um parque urbano, tanto na dimensão compreensiva como
programática.
REFERÊNCIAS
BALAN, D. S. L. O Parque Natural Municipal da Gruta, Americana, SP –
percepção ambiental e sua interferência na gestão de áreas de proteção. VI
Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental. Anais. IBEAS –
Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais: Porto Alegre/RS, 2015.
Disponível em: http://www.ibeas.org.br/congresso/Trabalhos2015/VI-048.pdf.
Acesso em 14 de julho de 2016.
BRASIL. SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Lei no.
9.985, de 2000. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/images/arquivos/areas_protegidas/snuc/Livro%20SNUC%20PNAP.pdf
. Acesso em 14 de julho de 2016.
GOTARDI, K. Apresentação de experiências. Encontro Águas e
Florestas. Bragança Paulista, 2009. Disponível em:.
http://www.sigam.ambiente.sp.gov.br/sigam3/Repositorio/222/Documentos/2009_Agua%20e%20Floresta/KatiaGotardi.pdf
. Acesso em 14 de julho de 2016.
Jornal O Liberal. RPT não trata nem 50% do esgoto que produz.
Disponível em:
http://liberal.com.br/cidades/regiao/rpt-nao-trata-nem-50-do-esgoto-que-produz-318954
. Acesso em 14 de julho de 2016.
ORTOLANO, F.; SILVA NETTO, J. P. Memorial de entrevistas
aplicadas aos membros da Associação Amigos da Gruta. Americana:
mimeografado, 2016a.
ORTOLANO, F.; SILVA NETTO, J. P. Projeto de Educação Ambiental
Crítica na região do Parque Natural Municipal da Gruta, Americana (SP). 2016b. Disponível
em: http://amigosdagruta.blogspot.com.br/2016/07/projeto-de-pesquisa.html .
Acesso em 14 de julho de 2016.
SCHMIDT, Maria Luisa Sandoval. Pesquisa participante: alteridade e
comunidades interpretativas. Psicol. USP, São Paulo ,
v. 17, n. 2, p. 11-41, jun. 2006 . Disponível em:.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642006000200002&lng=pt&nrm=iso
. Acesso em 14 de julho de 2016.
SPINK, M. J. e LIMA, H. Rigor e visibilidade: a explicitação dos passos
de interpretação. Em: SPINK, M. J. (Org.). Práticas Discursivas e
Produção de Sentido no Cotidiano. São Paulo: Cortez, 1999.