domingo, 28 de agosto de 2016

PARADOXOS NOS USOS DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DA GRUTA EM AMERICANA (SP, BRASIL)*

*Trabalho apresentado no XIII Simpósio para Integração em Gestão Ambiental. ESALQ/USP - Piracicaba, 20 de agosto de 2016. 


Clique na imagem para ampliá-la.
O Parque Natural Municipal da Gruta, em Americana (SP, Brasil), é uma unidade de conservação que, a julgar pelo estado em que se encontra, coloca em questão tanto a administração pública como o uso que faz dela a população local. É uma área de singular beleza cênica, haja vista sua topografia formada por fendas e uma gruta num vale. É o maior parque urbano do município, com setes quedas d’água, certamente uma área de afloramento do Aquífero Tubarão. Contudo, mesmo diante de sua relevância ambiental e histórica, as políticas públicas não têm se efetivado na preservação do local.
Balan (2015): não existe gerenciamento por parte do Poder Público e observa-se despejo de esgoto sem tratamento, ocupações irregulares, descuido e depredação por parte dos moradores do entorno.

OBJETIVOS
Apresentar os usos conferidos ao Parque nos últimos meses, apontando os problemas e as ações de preservação identificados por meio de registros fotográficos e opiniões de participantes do coletivo “Amigos da Gruta”.

MATERIAIS E MÉTODOS
Pesquisa participante com registros fotográficos em visitas in loco entre julho de 2015 e março de 2016, participação na formação da Associação de Cultura, Artes e Educação - ACAEDUC “Amigos da Gruta” e realização de cinco entrevista como parte do projeto de pesquisa sobre Educação Ambiental Crítica (Ortolano e Silva Netto, 2016b).
+/- 300 registros com foco na paisagem, aspectos geológicos, vegetação, problemas ambientais e atuação social.
05 entrevistas semi-estruturadas  realizadas em março de 2016, as quais foram analisadas pela metodologia de análise de discurso (Spink e Lim, 1999).
Materiais: Câmera SONY DSC-W530, Câmera do iPhone 4, Gravador SONY IC RECORDER e Notebook Acer One.

RESULTADOS OBTIDOS
Registros
•Novos locais de despejo de esgoto sem tratamento nas cachoeiras;
•Despejo de entulho e rompimento de tubulação em intervenção da prefeitura;
•Residências que não respeitam o distanciamento mínimo de nascentes conforme estabelece o Código Florestal;
•Tubulação rompida ocasionando erosão na Avenida Estados Unidos;
•Logradouros construídos dentro da área do Parque;
•Resistência da flora e fauna que sobrevive no local inóspito: encontram-se preservados, por exemplo, exemplares vegetais de Mata Atlântica e Cerrado, com diversas aves e espécies de orquídeas.

Entrevistas
•Falta de consciência ambiental e sentimento de pertencimento da população “[há] um estado de abandono e falta de apreço total por parte da municipalidade e dos órgãos públicos responsáveis”. (Entrevistado 05, 42 anos, servidor público);
• O espanto, a tristeza, a surpresa e a esperança foram alguns sentimentos apontados ante a atual situação do Parque, os quais representam potências a serem associadas ao sentimento de pertencimento;
•Os principais usos identificados pelos entrevistados corroboram com os dados levantados;
•Dado novo: população do entorno leva os animais para deixar suas fezes - “Uma cena que vi várias vezes. – Oh, senhora, não pode colocar o cachorrinho pra fazer cocô aí. É depositar sujeira”. (Entrevistada 03, 52 anos, professora). Chama a atenção o cuidado que a entrevistada levanta, ao tratar da postura da população frente a um bem público. “(...) eu acho que poderia existir um projeto de educação para que as pessoas entendessem que a gruta é o quintal da casa delas” (entrevistada 04, 52 anos, artesã). Certamente é preciso identificar as motivações e repertórios pessoais, diante dos conflitos e demandas públicas; 
•Uso politiqueiro do Poder Público “É tudo marketing. É tudo uma maquiagem para eles poderem movimentar recursos financeiros e públicos”. (Entrevistado 05, 42 anos, servidor público)
•Uso para o lazer, caminhada, passeio, plantio etc. “(...) Ela queria conhecer a gruta e levar umas professoras. Elas foram, fotografaram e lançaram um jornalzinho. Eu fazia parte”. (Entrevistado 02, 56 anos, gestor público). Muitos, independentemente do apoio do Poder Público, cuidam do Parque, “alguns se preocupam, capinam e plantam no local (entrevistada 01, 57 anos, pedagoga).
•Não gerenciamento do Poder Público, mau exemplo: “O desgoverno fez da cidade uma terra sem lei” (entrevistado 02, 56 anos, gestor público). (Ortolano e Silva Netto, 2016a).

CONCLUSÃO
Nota-se que apesar das múltiplas opiniões com relação ao Parque, muitos revelam sentidos em potencial a serem associados ao sentimento de pertencimento com o local. Mesmo diante de tantos problemas, a flora e a fauna têm resistido. Algumas mudanças parecem irreversíveis e não há como considerar apenas a resistência, mas sim as possibilidades de proteção. Uma intervenção para proteção e salvaguarda é emergencial.  O gerenciamento responsável por parte do Poder Público deve envolver a população em ações criativas e contínuas.
Gestão, participação e criação compreendem uma tríade oportuna para romper a dicotômica relação entre meio ambiente e ser humano na sustentabilidade de um parque urbano, tanto na dimensão compreensiva como programática.

REFERÊNCIAS
BALAN, D. S. L. O Parque Natural Municipal da Gruta, Americana, SP – percepção ambiental e sua interferência na gestão de áreas de proteção. VI Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental. Anais. IBEAS – Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais: Porto Alegre/RS, 2015. Disponível em: http://www.ibeas.org.br/congresso/Trabalhos2015/VI-048.pdf. Acesso em 14 de julho de 2016.
BRASIL. SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Lei no. 9.985, de 2000. Disponível em: http://www.mma.gov.br/images/arquivos/areas_protegidas/snuc/Livro%20SNUC%20PNAP.pdf . Acesso em 14 de julho de 2016.
GOTARDI, K. Apresentação de experiências. Encontro Águas e Florestas. Bragança Paulista, 2009. Disponível em:. http://www.sigam.ambiente.sp.gov.br/sigam3/Repositorio/222/Documentos/2009_Agua%20e%20Floresta/KatiaGotardi.pdf  . Acesso em 14 de julho de 2016.
Jornal O Liberal. RPT não trata nem 50% do esgoto que produz. Disponível em: http://liberal.com.br/cidades/regiao/rpt-nao-trata-nem-50-do-esgoto-que-produz-318954 . Acesso em 14 de julho de 2016.
ORTOLANO, F.; SILVA NETTO, J. P. Memorial de entrevistas aplicadas aos membros da Associação Amigos da Gruta. Americana: mimeografado, 2016a.
ORTOLANO, F.; SILVA NETTO, J. P. Projeto de Educação Ambiental Crítica na região do Parque Natural Municipal da Gruta, Americana (SP). 2016bDisponível em: http://amigosdagruta.blogspot.com.br/2016/07/projeto-de-pesquisa.html . Acesso em 14 de julho de 2016.
SCHMIDT, Maria Luisa Sandoval. Pesquisa participante: alteridade e comunidades interpretativas. Psicol. USP,  São Paulo ,  v. 17, n. 2, p. 11-41,  jun.  2006 . Disponível em:. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642006000200002&lng=pt&nrm=iso  . Acesso em 14 de julho de 2016.

SPINK, M. J. e LIMA, H. Rigor e visibilidade: a explicitação dos passos de interpretação. Em: SPINK, M. J. (Org.). Práticas Discursivas e Produção de Sentido no Cotidiano. São Paulo: Cortez, 1999. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário